quarta-feira, 3 de abril de 2024

É amor

 É amor

Verdadeiro, de verdade

Não dos que são chamados de amor sem ser

Não ama apenas porque é irmã

Ama com prazer

Ama porque apoia, protege, confia

É a que acredita, que vibra, que confidencia

Que acalenta, ouve e abraça

Que é amiga porque deseja ser, é cheia (e) de graça

É porque é simples

Não se exibe na praça 

É porque é amor

E daqueles que não passa

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Atracadouro do amor

 Eu te disse "não me prometa se não vai cumprir". E você mirou, onde sabia que doeria mais. Onde não tinha sarado, nem sequer cicatrizado. De propósito ou não, mas consciente do estrago. Eras o band-aid que foi colocado onde você mesmo machucou e com um único puxão, arrancou o pouco que havia curado.

Pra não se sentir tão mal, decidiu às pressas que agora queria ficar. E quando ficou, decidiu partir novamente, como se eu fosse apenas um ponto onde poderias chegar e ir embora quando bem entendesse. 

Eu não fiz tanto assim quanto minha mente acha, mas fiz o meu possível para que ficasse. Queria ser seu porto seguro ou seu seguro porto. A ordem não importaria, pois era nele que você desembarcaria. 

Mas, você nunca saiu do barco, apenas me avistou de perto e me fez pensar que iria em minhas terras pisar, para ficar. Eu te dizia que te sentia apenas pela metade, porém você insistia dizendo que estava aqui inteiramente. 

Na minha mente, acho que fantasiei demais por muito tempo me abster de outras pessoas, por te achar encantadora, acreditei que em mim queria fazer morada. E enquanto eu tentava crer na afirmação, você colocava apenas os pés para fora da dita embarcação.

A verdade é que sempre esteve mais para lá do que para cá. Sempre em uma posição que pudesse partir quando sentisse o mínimo de perigo. E eu me preparando para quando sentisse medo, ser o seu abrigo, tive minhas incertezas confirmadas, quando pela última vez fugiu, para nunca mais estar comigo. 

O pior disso tudo é exatamente tudo a minha volta me lembrar você e até as águas por onde seu barco fingia atracar sentem falta de quem nelas flutuava e que conscientemente nelas não quis permanecer.

sábado, 29 de agosto de 2020

Sexta-feira de insônia

Finalmente achei um livro que é minha cara
Tá tocando uma playlist na mesma vibe
E tudo se encaixa tão perfeitamente
Nessa sexta-feira de insônia
Minha mente está preenchida
Pelo meu grande amor
Além da minha maior paixão
Meu coração está em luta
Pelo calor que o aquece
Da lembrança desses dois
E pelo frio que suas ausências o proporcionam
Tenho foto apenas de quem não me dói tanto
Não posto fotos da minha paixão
Imagino que isso deva incomodar
Não é que eu não goste mais dela
Mas não quero me iludir de novo
Um dia vou rir disso tudo
Mas hoje tô sozinha
Porque escolhi assim
Fico pensando no nós inexistente
Nos rostos, toques e carinhos trocados entre a gente
Não chamo nenhum dos dois
Não recomendo querer ficar na minha vida
Meus braços sentem falta dos abraços longos
Minha cama sente falta até de quem nunca deitou nela
Minha imaginação fez tudo acontecer
Agora é ela que não me deixa de vocês esquecer

domingo, 12 de julho de 2020

Processos cortados

“Todo mundo aprende uma hora”
Mas quando eu irei aprender?
Tem sido um fardo
O fato de que não suporto mais escrever
Sobre esse vazio
Que só retém o que não desejo
Sobre você e o sentimento que finjo que não vejo

Tenho vivido como um fantasma
Como uma sombra
De todas as coisas que deixei passar
Sem perceber ou propositalmente
Por que não posso simplesmente viver
Sem me autossabotar?

Hoje, infelizmente, voltei a me questionar
Sobre decisões que tomei no passado
Percebi que já deveria tê-lo analisado
Para entender a mim mesma
E o que se passa em minha cabeça

Surgiram novas pistas sobre mim
Um tal de corte de processos
Completamente perigoso
O qual não me permite seguir
Nada que quero, nem caminho algum
Que cogito prosseguir
Por que tenho que ser assim?

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Prazer, eu

Não tenho segredos a guardar
Sinto que aquilo quer voltar
E eu preciso me preparar
Respirar fundo 
Repetir o ciclo novamente
Contar até três, lentamente
Não mais fingir, nem tentar me enganar
Quando sei o que devo fazer
Para voltar a viver
É preciso deixar tudo ir
Hora de em frente seguir
Mas acontece tudo muito igual
A ansiedade vem
Fazendo-me sentir mal
Revisitando dores passadas
Que já deveriam ser um nada
E aqui estou uma vez mais
Sofrendo nesta madrugada
Não quero conversar, se isso só faz doer
Nem escrever o que já escrevi
Vejo o dia amanhecer
Lembrando de coisas que desisti
Ou das vezes que já fugi
Pra não enfrentar o que amadureceu
Não sou mais a pessoa que ninguém conheceu
Quando reflito que meu próprio inferno
É a simples existência do ser "eu"

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Why does everybody love you?

Porque todo mundo te ama
Quando eu só quero parar?
Nós já sabíamos
Sabíamos que isso não iria funcionar
Te amar forçava minhas barreiras
E eu sempre fui muito covarde
Em te aceitar por inteiro
Desculpe meu coração
Pensei que ele estava preparado
Que já tinha se acostumado
A amar e a ser amado
Mesmo se esforçando
Mesmo amando
Sinto muito
Não foi suficiente

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Ficar bem

Está chovendo novamente, o pensamento cruzou a mente de Fernanda. Levantou-se da cadeira, que já estava sentada há horas. Pegou a bolsa, o guarda chuva, tudo que sentia necessitar e, então, saiu. Caminhou em direção ao ponto de ônibus e esperou. Colocou os fones de ouvido permitindo-se, enfim, ouvir alguma musica que acalmasse seu aflito coração. Aqueles sentimentos estavam lhe ocorrendo novamente. Tudo havia voltado a si, mais uma vez. Uma desolação que não sabia bem de onde partia, mas sabia que doía. Doía tanto, que apenas ficar parada, reclusa em casa, como estavam sendo seus dias, não faria aquela angústia passar. - Droga! Um muxoxo, logo em seguida, lhe escapou. Aquela sensação de chorar voltava. Mas, por quê? Não sabia, de fato. Nada em sua vida parecia ter real sentido ou explicação. 
Seu aguardado ônibus chegou. Juntou as poucas forças que lhe restavam e embarcou em destino àquele lugar. Encostou a cabeça na janela, o ônibus abafado pelas janelas fechadas. A chuva caia forte do lado de fora e dentro de Fernanda, algo também apertava com força. Permitiu-se soltar apenas uma lágrima. Ser vista chorando não era bem aceito, sabia. Era um mundo perfeito, não era? Deveria ser aproveitado com muitos sorrisos, mas não estava sendo assim para ela. O cenário mudava a cada parada. Porém, nada mudava em seu interior. Crescer, não mudava seu interior. 
Ainda estava ferida, era isso. Toda mentira que dissera a si mesma, estava sendo desmanchada naquela chuva, juntamente ao pouco de dignidade que lhe restava. Eu te amo, não eram palavras simples de serem lembradas. Não quando seu coração doía tanto naquela manhã de domingo. As pistas vazias, o ônibus silencioso. Tudo parecia conspirar para o agravamento de sua solidão. Mas, gostava assim. Quanto mais doesse, quanto mais lhe massacrasse e lhe deixasse no pó, mais aproveitava para se autotorturar. Era loucura, sabia. Vivera tanto tempo se alimentando de toda dor, trazida por suas velhas feridas, que era simplesmente natural ter uma recaída daquelas. Tudo começava com pensamentos trazidos pelo passado, mas ignorados até o momento que a sufocasse a ponto de não aguentar mais. Era quando largava tudo e corria com todas as forças para aquele lugar.
Última parada para Fernanda significava a liberdade de tudo aquilo que vinha sentindo há dias. A chuva já havia cessado, mas tudo continuava cinza. Sem brilho nos olhos, desceu. Não estava certa se queria se livrar daquele sentimento, mas começou a caminhar. Os olhos apreciavam àquela vista, tão calorosa do céu nublado. Todo o cenário era bem apreciado. A relva, escorrendo pingos d'água, o rio correndo, o parque vazio e o que mais lhe acalmava, o silêncio daquele lugar. Avistou seu banco favorito e seguiu em direção à ele. Tudo estava em seu devido lugar, do jeito que deixara. As flores em volta, a grama e aquelas palavras escritas, que nunca se apagavam, nem mesmo dentro do seu coração. Passou lhes a mão e dentro de si, pôde ouvi-las. Aquela voz suave cruzava novamente a sua mente. Era como um castigo, mas ao mesmo tempo o remédio que curava aos poucos sua ferida recém-aberta. Deixou-se encostar a cabeça nelas, para tentar se aproximar de quem as escrevera e de quem mais sentia falta.
O ódio que sentia de si mesma, por ceder ao desejo mais miserável que poderia ter, não conseguia atingi-la naquele momento. Estava tão imersa naquele tratamento proibido, que era capaz de se afogar em todas aquelas memórias. Vai ficar tudo bem, disse a si mesma, tentando aliviar, mesmo que por um pouco, a dor que sentia no fundo do peito. Minutos se passaram até voltar aos seus sentidos. Recompôs-se e passou a se sentar. Com um olhar distante, foi surpreendida com outro olhar. Havia alguém a observando de longe, fazendo-a corar. O rosto lhes era familiar, sentia. Aquela pessoa estava em seu campo de visão, fitando-a se martirizar. Qualquer um perceberia a dor no rosto, no toque ou no encostar de sua cabeça no banco da praça. Não havia como negar.
Era engraçado, pois aquela pessoa tinha um olhar pesaroso, assim como o seu. Não era um olhar de julgamento ou crítica, como esperava. Mas sim, um olhar de cumplicidade, como se entendesse sua dor. Aquilo meio que lhe acalentava e mesmo que por um pouco, a fazia sentir-se menos miserável por estar ali. Desviou o olhar por um instante, pois como uma flechada em sua mente, lembrou-se que já estiveram trocando olhares a algum tempo. Mesmo a miopia forte não poderia lhe negar. Foi-lhes lançado um meio sorriso, como se dissesse não estou aqui para julgar. Era uma afirmação muda, uma conversa calada, que fazia aquela angustia evaporar aos poucos pelos poros da carne flagelada. E aos poucos também, de pontinho em pontinho, enchia seu coração de forças. 
Era maravilhoso ter com quem compartilhar aqueles sentimentos. Pela primeira vez, estava sendo compreendida por alguém, sem ser antes julgada e condenada, não podendo nem mesmo se defender. Martirizar-se não era a coisa mais sábia a se fazer, mas era também a única coisa que conhecia para, paradoxalmente, aliviar sua dor. Viera de uma infância sofrida, que sofrer mais um pouco não fazia tanta diferença assim. Mas, era humana! Mesmo que não conseguisse compreender seus próprios sentimentos, alguém entenderia, não é? E, finalmente, alguém demonstrava por si, o que precisara sentir a tanto tempo: compaixão.
Aquele meio sorriso era uma espécie de consolo. Mas, parando bem pra pensar, bem lá no fundo, aquilo estava virando rotineiro. É verdade! Lembrou-se. Ele sempre estivera lá. Chegava sempre tão desesperada, cega em aliviar-se de toda aquela loucura, que mal percebera o rapaz que sempre a observava. Inconscientemente, aquela pessoa estava fazendo parte do seu chamado kit de socorros, pois sempre estivera ali, onde mais precisava. Aquela conexão que começou a sentir, após aquela percepção, era incrível! Era como se sempre pudesse contar com aquela pessoa desconhecida. Ele sempre poderia, de longe, lhe amparar em seus momentos mais miseráveis, pois já fazia parte do lugar. Aquele banco, aquela praça, juntamente àquelas palavras, não estavam mais só. Fernanda não estava mais só, pois havia alguém que a compreendia. Que sempre estaria ali, exatamente quando mais precisasse.
Por um momento, encheu-se de esperança. Agora teria alguma ajuda para conseguir superar toda aquela angústia, que sempre vinha a se lamentar. Os arrependimentos ficaram consigo, como cicatrizes, que não a deixavam superar. A verdade era, não conseguia deixar nada passar. Tudo marcava, tudo ficava, mas apenas ela se martirizava quando alguém partia ou não queriam mais em sua vida ficar. Sua recente esperança começou a se ofuscar. Já fazia tanto tempo que não abria seu coração que deveria, de fato, sobre tudo isso pensar. Precisava racionalizar. E se um dia voltasse ali, para diminuir sua angústia incessante e ele não estivesse mais lá? Como iria reagir? Não podia cegamente, novamente, se entregar. Não era tão simples. Não desejava mais se magoar.
Mas e se ele também me espera chegar? As palavras cruzaram sua mente, como uma percepção que ainda não havia chegado. Ele não deveria depender de si, pensou. E então, sorriu, com uma tristeza no olhar. Como poderia ser tão egoísta, a ponto de desejar depender de alguém e ao mesmo tempo, rejeitar a dependência de outra pessoa sobre si? Tinha chegado ao fundo do poço, só podia. Levantou o olhar novamente, só para se certificar da pessoa miserável que estava se tornando e viu. Aquele sorriso caloroso estava lá. Uma coisa podia admitir, com toda certeza. Não estava pronta, era isso. Não estava pronta pra confiar, se entregar, deixar-se acalentar. A lembrança da dor enfraquecia todo e qualquer esforço em busca da tão desejada liberdade. Estava presa, amordaçada dentro de sua própria culpa.
O olhar perdido a fez ser pega de surpresa novamente, quando seu inconsciente consolo, resolveu se levantar. Os olhares ainda estavam atados, quando ele deu seu último riso de despedida. Tudo realmente se vai, disse para si mesma. O coração apertado, pois era mais uma partida. Mais uma pessoa que ia embora de sua vida, se momentaneamente ou para sempre, como o causador de todas as suas recaídas. A verdade era que se culpava por tudo, até por coisas que sabia não ter controle sobre. Culpava-se por terem se afastado. Culpava-se por não ter apreciado mais sua presença na terra. Sangrava por não ter aceitado seu amor quando lhe declarara. Chorava com a falta do seu porto seguro. E, por fim, se martirizava por não ter estado lá em seus últimos momentos.
Sabia que não poderia, para sempre, se prender naquele mundo imaginário. Mas, também, não era fácil amenizar o que sentia. Anos haviam passado, mas tudo continuava lá, intocado. Sabia também que as coisas boas sempre terminavam e quando terminassem, ela sempre estaria com arrependimentos. Decidiu que já era tempo de partir. Levantou-se, já em direção ao ponto de ônibus. Porém, uma curiosidade iminente lhe ocorreu. Algo quente pulsou no seu sangue e soube, então, o que deveria fazer. Voltou os pés e caminhou na direção oposta. Simplesmente, sentiu a necessidade de ir em direção ao banco do seu inconsciente band-aid. O coração zunindo nos ouvidos, o suor se esfriando e o nervosismo tomando conta de si. O medo de ser pega em flagrante era real e não sabia o que poderia encontar ali.
Ao se aproximar, percebeu que também era um banco cheio de escritas, como o seu. Atreveu-se a sentar-se nele e passar a mão naquelas palavras que deveriam significar o mundo para aquela pessoa, assim como as palavras escritas em seu banco significavam para si. Eram notas datadas de muitos anos atrás. Aquela pessoa ia naquele mesmo banco há mais tempo do que ela mesma, constatou. Era como se ele anotasse seu próprio progresso em superar a dor que sentia. Sentiu-se um pouco desconfortável por invadir a privacidade de outra pessoa, principalmente de alguém que sempre esteve lá quando mais precisou.
Notou um desenho recente de uma nuvem e umas palavras escritas dentro dela. Era, na verdade, o último espaço para escrita que havia naquele banco. Permitiu-se lê-las e as leu com seu coração. Uma lágrima lhe escapou, mas levantou-se com obstinação, segurando sua bolsa com força e sorriu. Sentiu que aquele estranho não voltaria mais ali e então, uma determinação, já esquecida, passou por todo o seu corpo, causando-lhes um arrepio satisfatório.
Aquilo tudo voltaria algum momento, admitia. Porém, agora seria forte, realmente seria. Não por alguém ou para alguém, como acreditava que deveria ser. Aquele posto era apenas seu e só seu. Mas sabia que band-aids não poderiam para sempre cobrir suas feridas. Sentiu, enfim,  todas elas expostas ao vento, pois apenas assim se curariam. As palavras lidas a pouco, agora reprisavam e fixavam-se em sua mente e uma vontade imensa de gritar se alastrava dentro de Fernanda. A última coisa que queria lembrar-se daquele lugar era que tudo isso vai passar, pois quando se levantar, irá abrir suas asas e voar. Voe bem alto e, então, irá se libertar.